Um estudo inédito sobre o recurso a gâmetas de dadores, que envolveu
mais de 1.500 adolescentes, revelou que os jovens portugueses estão
pouco predispostos a doarem óvulos e espermatozoides, apesar de
aceitarem esta técnica.
“Doação de gâmetas: atitudes e
predisposição para o uso e recuso nos adolescentes portugueses” é uma
investigação da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação e da
Faculdade de Ciências, da Universidade do Porto, que será divulgada no
5º Congresso Português de Medicina da Reprodução, que começa
quinta-feira, na Figueira da Foz.
No estudo participaram 1.532
jovens (941 mulheres e 591 homens), com idades entre os 14 e os 22 anos e
a frequentar o ensino secundário público.
“Os adolescentes
portugueses apoiam a doação de gâmetas para a Procriação Medicamente
Assistida (PMA), a comparticipação pelo Estado para o recurso a estas
técnicas, e o anonimato dos dadores”, lê-se nas conclusões do estudo.
Apesar
disso, “os resultados revelaram uma baixa predisposição dos
adolescentes, quer para recorrer no futuro a dadores de gâmetas caso
necessitem, quer para serem dadores”.
Mariana Veloso Martins, da
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, é uma das autoras do
estudo e disse à agência Lusa que, apesar dos adolescentes portugueses
apoiarem a doação de gâmetas e perceberem que é necessário os casais
recorrerem a ela, esta “é uma realidade ainda muito distante para eles”.
“Eles
entendem o desejo dos casais quererem um filho e concordam com o apoio
do Estado a estas técnicas, mas não revelam predisposição nenhuma para
recorrer a elas nem revelam qualquer predisposição para serem dadores”,
adiantou.
Por estas razões, Mariana Veloso Martins considera que
“não é realista esperar que imirja uma cultura de doações altruístas em
Portugal se nada for feito para que haja uma maior motivação por parte
dos jovens, que são o principal alvo do banco público de gâmetas, uma
vez que são os que têm maior qualidade de espermatozoides e ovócitos”.
De
acordo com as conclusões do estudo, “tanto os rapazes como as raparigas
discordam da utilização desta técnica em casais homossexuais e para
fins de seleção (como de género ou raça) e da manipulação para
investigação científica”.
Os autores do estudo defendem que a
educação sexual inclua a prevenção da infertilidade e as implicações do
recurso a dadores (à semelhança da adoção), assim como um maior empenho
ao nível de campanhas e programas de ação que possam levar os jovens a
serem dadores de espermatozoides e óvulos.
Lusa
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