quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Casamento entre primos adolescentes gera polémica em Gaza


m recente casamento entre dois primos de 15 e 14 anos em Beit Lahia levantou diferentes pontos de vista na Faixa de Gaza, já que a legislação islâmica permite esse tipo de relacionamento intrafamiliar e entre pessoas tão jovens, mas duas questões deste caso não são bem vistas na região.

Ahmed, de 15 anos, casou na semana passada com a prima Tamara, de 14, na cidade de Beit Lahia, no norte de Gaza, numa cerimónia que reuniu pais, irmãos, parentes e amigos dos noivos.
O casamento entre os adolescentes, prática comum noutras regiões com poucos recursos económicos, não costuma ser frequente na Faixa de Gaza, e gerou polémica entre a população, além de ter provocado a rejeição de activistas de direitos humanos.
Tanto Ahmed como Tamara são membros do clã Sobeh, moradores de uma zona rural onde a tradição e a pobreza se misturam em iguais proporções.
A história do jovem casal de Beit Lahia espalhou-se e em poucos dias despertou um debate em Gaza, território sob o controlo do grupo islâmico Hamas desde uma acção violenta em Junho de 2007.
«O casamento de crianças é um fenómeno que tinha desaparecido há muito tempo. Acho que os pais dos dois adolescentes não receberam boa educação», afirmou Salma Abu Hajjar, uma palestiniana de 52 anos e mãe de cinco filhos com idades entre 20 e 30 anos.
Enad Sobeh, pai do menino de 15 anos que casou com a prima, disse sentir-se feliz em ver o seu primogénito casado tão cedo.
«Queria ver meu filho casar, e apesar de vivermos numa situação muito difícil, vendi dois burros para conseguir o dinheiro para o dote e também para custear os convites da cerimónia», afirmou.
A Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNRWA), que presta assistência aos refugiados na Faixa de Gaza, região com 1,8 milhões de habitantes, anunciou recentemente em comunicado que mais de um milhão de palestinianos vive abaixo da linha da pobreza.
Para Hassan al-Joujo, presidente do Conselho de Legislação Islâmica em Gaza, sob controlo do Hamas, o casamento entre Ahmed e Tamara é legal e está de acordo com a legislação islâmica implementada na Cisjordânia e na faixa desde 1993.
«Ahmed nasceu em Fevereiro de 1998, portanto a sua idade é completamente legal, e a sua esposa Tamara nasceu em Janeiro de 1999, e a legislação islâmica também permite que case», garantiu Joujo, que disse que a ausência de documento de identidade pelos noivos não é motivo suficiente para impedir o matrimónio.
A legislação palestiniana permite a união entre adolescentes a partir de 15 anos, mas a sociedade de Gaza considera o caso de Ahmed e Tamara bastante excepcional já que a maioria das meninas casa após completar 18 anos e os homens após os 22.
A directora do Centro para a Pesquisa e Estudo da Mulher em Gaza, Zeinab al-Ghuneimi, condenou o casamento entre os adolescentes e ressaltou as consequências negativas destes casos nos aspectos psicológico, social e médico, especialmente para as meninas.
«Este casamento é um caso raro. O fenómeno tinha sido esquecido em Gaza devido ao desenvolvimento do nível educacional da população», explicou Zeinab, que também destacou que o aumento da pobreza e da ignorância entre os cidadãos locais deve-se ao bloqueio imposto ao território por Israel.
«Os matrimónios entre jovens causam problemas de saúde a ambos devido à falta de experiência nas relações sexuais, além da carga psicológica e das dificuldades enfrentadas pelas meninas após tornarem-se mães», ressaltou.
Em Gaza, a maioria das mulheres prefere concluir os estudos até ao ensino médio, e até mesmo entrar para a faculdade antes de estabelecer uma vida a dois, e a pobreza e o desemprego tornaram-se motivos para deixar o casamento para depois.
Apesar de a legislação islâmica permitir, grupos de direitos humanos em Gaza questionam a legalidade e moralidade do matrimónio entre adolescentes.
Khalil Abu Shamala, director do Centro de Direitos Humanos em Gaza, negou que exista uma legislação islâmica sobre o assunto e, numa rede social, afirmou que tratar-se de «um crime insuportável que ninguém pode aceitar facilmente».

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