A presidente da Associação Portuguesa de Crianças Desaparecidas (APCD)
revelou esta quarta-feira que os casos de rapto parental aumentaram
cerca de 50% em 2012, considerando a situação preocupante por não
existirem mecanismos suficientemente céleres para a combater.
Patrícia
Cipriano explicou à Lusa que o trabalho estatístico ao nível das
crianças desaparecidas em Portugal e na Europa "não é fiável e fica
muito aquém da realidade", porque são contabilizados vários
desaparecimentos que dizem respeito à mesma criança.
Devido a
esta situação, a APDC começou a fazer a contabilização dos casos de
desaparecimento. "Apercebemo-nos de que, em 2012, houve um aumento na
casa dos 50% no que diz respeito, por exemplo, à subtracção de menores,
sublinhou a responsável, que falava a propósito da inauguração, na
quinta-feira, da nova sede da associação em Lisboa.
Este é um
tema que "preocupa bastante" a associação, porque "em Portugal não há
mecanismos céleres o suficiente para fazer face a esta situação", disse.
"Temos situações muitíssimo graves que não têm que ver com a crise
económica, nem tão pouco com o facto de haver um casamento e um
posterior divórcio entre pessoas de nacionalidades diferentes",
explicou.
Neste momento, acrescentou, "o que se está a verificar
é que as pessoas têm uma sensação de impunidade em relação a este tipo
de conduta".
Muitas
vezes, quando um pai ou uma mãe pretende atacar o outro, fá-lo através
da instrumentalização dos filhos: "Temos acompanhado situações muito
problemáticas e tristes", com consequências "muito graves" para a
criança.
Há crianças que estiveram desaparecidas desde os cinco
anos até aos 15, desenvolvendo "sintomas de crises emocionais muito
graves, têm crises de pânico, dormem mal e urinam na cama até muito
tarde". "É triste, essencialmente, não haver autoridades em Portugal que
percebam claramente estes fenómenos", lamentou.
A responsável
disse ainda haver situações em que "os tribunais estão completamente
parados no tempo, não resolvem e não protegem o superior interesse da
criança, não sei se por falta de formação ou mesmo por falta de
sensibilidade nalguns casos".
Citando dados da GNR, Patrícia
Cipriano adiantou que foram registados, em 2012, na região de Lisboa 251
desaparecimentos de crianças até aos 18 anos e 114 participações de
abuso sexual de menores até aos 16 anos.
Os dados da Polícia
Judiciária ainda não foram facultados, mas em 2011 foram registados 76
casos de desaparecidos até aos 12 anos, número que subiu para 737 em
crianças dos 12 aos 18 anos. Todos os anos, só na PJ, o número de
desaparecidos a nível nacional ronda os 1.500 a 2.000 casos, mas houve
um ano em que foram quase 3.000.
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