sábado, 1 de março de 2014

Violência financeira contra idosos é frequente, filhos e netos são os principais agressores

A violência financeira é tão frequente como a psicológica depois dos 60 anos, sendo filhos e netos os principais agressores, revela um estudo inédito hoje publicado pelo jornal i.

Roubos e utilização de objectos contra a vontade do próprio, a assinatura forçada de documentos ou concessão de direitos legais e ainda a apropriação da casa e ausência de contributo nas despesas domésticas, obrigando os mais velhos a suportar todas as despesas do agregado são alguns dos abusos.
O primeira estimativa da incidência nacional da violência em relações de confiança contra pessoas com mais de 60 anos revela que as agressões do foro financeiro são tão frequentes como as psicológicas e acontecem mais vezes do que os maus-tratos físicos, que geralmente tem maior visibilidade, escreve o jornal.
O primeiro estudo sobre a prevalência da violência contra idosos na população portuguesa, apresentado pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), permite estimar que no período de um ano, entre Outubro de 2011 e o mesmo mês do ano seguinte, houve 160 mil idosos coagidos financeiramente por pessoas que conheciam. Na maioria das vezes, os agressores são os descendentes, filhos e netos. Em quase três e em cada dez casos será assim, seguindo-se as situações que envolvem outros familiares (25,9%), amigos/vizinhos (11,6%) e profissionais conhecidos (10,8%).
Ana Paula Gil, coordenadora do projecto Envelhecimento e Violência do INSA - que além de prevalências populacionais com base em inquéritos telefónicos a nível nacional traçou um retrato das vítimas com base em inquéritos em instituições - rejeita uma relação da prevalência da violência financeira com a crise, uma vez que não há dados de outros anos. No entanto, admite ter sido surpreendente perceber a incidência deste tipo de agressões nesta faixa etária, cerca de 6,3%, tão grande como a violência psicológica que inclui actos como ignorar, gritar, ofender, humilhar ou ameaçar.
Comparando com estudos internacionais que seguiram uma metodologia semelhante com a que foi aplicada pelo INSA, apenas Israel apresenta uma prevalência da mesma ordem para a violência financeira. Nos EUA, país apontado pelos investigadores como aquele com que Portugal se compara mais em matéria de violência contra idosos do que com a Europa, estima-se que 5,2% dos idosos estejam sujeitos a este tipo de coacção. No Reino Unido ou Espanha são 1%.
O estudo populacional estimou que entre as vítimas, 64,9% não fala sobre a situação nem apresenta queixa. Já entre as cerca de 500 pessoas inquiridas em instituições, só 28% admitiu ter comunicado a situação a outra instituição que não aquela onde está a ser acompanhado. Apesar de tudo, é nos casos de violência financeira que mais vezes se avançam com queixas, surgindo no extremo oposto a violência física, que segundo o mesmo estudo anónimo pode ter afectado 57 760 idosos no mesmo período (2,3%).
Considerar a situação irrelevante, querer proteger o agressor e a família e medo foram as razões mais apontadas para não denunciar no estudo populacional. No inquérito às vítimas com apoio, o «medo de represálias» foi o motivo mais frequente, seguindo-se a protecção do agressor e da família, irrelevância e falta de informação. Mas dez pessoas responderam medo de ficar só e 15 o receio de ninguém acreditar. Na hora de procurar ajuda, a maioria opta pela polícia, seguindo-se redes informais e só no fim profissionais de saúde.
O risco associado à pobreza e baixa escolarização é das constatações mais evidentes. A vulnerabilidade das mulheres também mereceu alertas, as quais têm um risco 1,5 vezes maior de serem vítimas, segundo o i.

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