sexta-feira, 21 de março de 2014

Família portuguesa em Inglaterra ficou sem os cinco filhos por “risco futuro de dano emocional”


Dois dos cinco filhos de Carla e José Pedro foram colocados para adopção em Inglaterra, onde o casal português vive desde 2003. Os outros três estão em famílias de acolhimento até aos 21 anos. Casos como este são frequentes no Reino Unido e foram objectos de análise na Comissão das Petições do Parlamento Europeu.
Público (arquivo)
Quando, em Junho de 2003, deixaram Portugal e emigraram para Inglaterra, Carla e José Pedro tinham dois filhos. Hoje, este casal de Almeirim tem cinco filhos e todos lhes foram retirados em Abril de 2013.
Vivem em Grantham e no processo em tribunal que os pôs frente a frente com os Serviços Sociais de Lincolnshire, o juiz do Tribunal de Família decretou que os três filhos mais velhos – de sete, 12 e 14 anos – ficavam em famílias de acolhimento até aos 21 anos. Os dois mais pequenos – de 3 e 5 anos – foram colocados para adopção.

A vida não era fácil para esta família a viver sob o permanente sobressalto de actos violentos do filho mais velho, que tem um atraso mental e uma hiperactividade tratada quando viviam em Portugal. Nesse dia 23 de Abril, o rapaz queixou-se à assistente social que o acompanha na escola de que o pai lhe tinha batido. A funcionária ligou para os serviços sociais e no mesmo dia as crianças foram levadas de casa. 
Para Carla e José Pedro, tudo mudou naquele dia 23 de Abril, quando elementos da polícia e dos serviços sociais bateram à porta, já passava das cinco da tarde. Não tinham nenhuma ordem do tribunal. Forçaram a entrada e, sem aviso, levaram-lhes os cinco filhos. Disseram que seria por 72 horas.
 As 72 horas passaram e não voltaram. Os papéis deram entrada no Tribunal de Família em Maio. Os advogados abandonaram o caso a meio e o casal não teve direito a apresentar testemunhas. O processo, como todos os processo no Tribunal de Família, decorreu à porta fechada. E terminou em Dezembro de 2013, com a juiza a decretar a retirada dos cinco filhos e a apresentar como prova a queixa do miúdo, que ele mesmo depois retirou em várias cartas aos serviços sociais, diz a mãe.
“A polícia disse que tinha poderes”, conta ao PÚBLICO por telefone Carla Pedro que, na altura, perguntou se traziam uma ordem do tribunal e, hoje, só é autorizada a estar com os filhos uma vez de dois em dois meses. Em cada encontro, “eles choram, dizem que querem voltar para casa”. Em cada encontro, a mãe diz-lhes para terem calma. Não vivem todos na mesma família de acolhimento. E os serviços sociais juntam todos na mesma reunião de família. Podem ver-se, abraçar – e tudo isso em menos de uma hora. É assim desde que as crianças foram retiradas aos pais por “risco futuro de danos emocionais”.
“Bater nas crianças não é permitido no Reino Unido, mas nós nunca lhes batemos. Castigamos”, continua Carla Pedro. "Seja como for, o meu filho disse mais tarde que tinha mentido quando acusou o pai de lhe ter batido." Dias antes da queixa que o rapaz fez do pai, a mãe tinha-o posto de castigo por vários dias, depois de receber um telefonema do director a apontar, mais uma vez, o seu mau comportamento.
O rapaz mais velho, de 14 anos, e a menina de sete anos, estão em duas famílias separadas de acolhimento na mesma cidade costeira de Skegeness. A rapariga mais velha, de 12 anos, está numa família de acolhimento em Stanford com os dois mais pequeninos, colocados para adopção.
Além do medo de os perder para sempre, Carla Pedro vive assombrada por outros terrores – alimentados pelas histórias que ouve de abusos frequentes em famílias de acolhimento e pelo manifesto desespero da sua filha mais velha, que diz à mãe que se mata se perder os dois irmãos. "Tenho medo por ela. Há crianças, nestas situações, que se matam. E ela está a ir-se muito abaixo ao ver os irmãos nesta situação. Ela era uma aluna brilhante, que se está a perder, até na escola.” E acrescenta. “Quero tirar os meus filhos das famílias de acolhimento antes que algum mal lhes aconteça."

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