Desde os 12 anos que Cristina Nunes sabe que quer ser mãe. O tempo foi passando e tinha definida na sua cabeça uma data limite para tomar a decisão, os 33 anos. Como quando chegou à idade não tinha parceira decidiu avançar sozinha. Fez a primeira consulta em Portugal mas decidiu que todo o resto do processo decorreria em Espanha, em Vigo, porque era a poucas horas de carro do Porto, cidade onde tinha onde ficar, teve que lá ir seis vezes. Engravidou aos 33 anos, Ana nasceu quando tinha Cristina 34 anos.
Fez o registo da bebé na Maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, onde a filha nasceu, mostrando uma declaração da clínica espanhola a dizer que tinha recorrido a um dador e que a lei espanhola não permitia a sua identificação. Foi aberto um processo de averiguação da paternidade, como sempre acontece. Lembra-se de ainda ter sido chamada ao Tribunal de Família e Menores de Lisboa mas “estava tão feliz com a minha filha” que isso nem sequer a incomodou. Recebeu a decisão pelo correio, o processo não tinha tido continuidade “por ser não possível apurar a paternidade”.
Os pais de Cristina, que é programadora informática e vive em Lisboa, aceitaram a sua orientação sexual mas foi diferente quando lhes contou, facto consumado, que iam ter um neto fruto de uma inseminação artificial com dador anónimo. A única coisa que sabe dele é que os seus traços físicos se assemelham aos de Cristina, em tom de pele, cabelo, olhos. O pai aceitou a inevitabilidade da decisão, “não há nada a fazer”, a mãe deixou de lhe falar durante toda a gravidez, até aos quatro meses se ter apaixonado pela neta.
Ana vai fazer três anos, ainda não começou a fazer perguntas, mas estarão para breve, “pelo que eu li é a partir dos três, quatro anos que começam a perceber as estruturas familiares”. Cristina já tem algumas respostas preparadas. “Ela vai saber desde sempre”. Primeiro a explicação vai ser muito simples, “a mãe queria ter um bebé e foi ao médico. À medida que for crescendo vou-lhe explicando melhor.”
Fez o cartão de cidadão de Ana. Antes do nome da mãe, onde tradicionalmente está o do pai, os serviços de identificação civil puseram um asterisco. “É uma questão informática, não podem ter um vazio. É melhor do que ter lá escrito desconhecido”. Cristina às vezes tem receio de que a filha sinta falta de uma figura paternal. “Nunca vai ter pai”, mas depois pensa que “tem outras figuras que a vão ajudar nessa ausência.”
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