Durante
quarenta anos, Maria Eugénia foi escravizada pelo marido, que a
espancava e a prendia em casa com cadeados, mas nem assim consegue ter
mágoa do companheiro, Manuel Pereira.
O
Tribunal de Águeda deu-lhe a oportunidade de pedir uma indemnização ao
agressor, mas a mulher recusou. O Ministério Público pediu a condenação
do reformado, de 81 anos, a uma pena de prisão efetiva.
Maria
Eugénia, que segundo os relatórios médicos sofre de um atraso mental,
voltou ontem ao tribunal para depor. Fê--lo na ausência do companheiro –
que está solto, mas proibido de contactar a vítima, por ordem da
juíza-, e voltou a reiterar o seu amor pelo agressor, o único homem que
conheceu em toda a vida. Assumiu a culpa pelas agressões de que era
vítima no casebre, sem água nem luz, em Serém de Baixo, na freguesia de
Valongo do Vouga, Águeda.
"Se às vezes eu
estivesse calada, ele já não me batia. Acredito que ele ficou
‘escaldado’ e não volta a fazer outra", afirmou a mulher, que atualmente
vive numa casa-abrigo. "Não me interessa a indemnização, eu queria era
vê-lo, pois tenho uma grande paixão por ele", acrescentou no tribunal.
Para
o Ministério Público, esta atitude é normal em "alguém que foi
manietado toda a vida e tem relação de dependência" com o agressor. "O
sistema judicial tem de proteger as vítimas indefesas, mesmo quando elas
não querem. Por isso tem de manter o agressor afastado da vítima e
condená-lo à prisão", concretizou o procurador. n
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