Dois projectos-lei aguardam discussão na Assembleia da República há dois anos.
Este é o momento propício para rever a lei da
Procriação Medicamente Assistida (PMA) e para avançar com a
possibilidade da maternidade de substituição (as chamadas “barrigas de
aluguer”) em Portugal, defenderam quinta-feira deputados e
especialistas. “Não podemos aceitar que a Assembleia da República tenha
dois projectos-lei [sobre estas matérias] na gaveta desde o início de
2012”, criticou o líder do Bloco de Esquerda (BE), João Semedo, no
colóquio PMA Presente & Futuro, na Fundação de Serralves, no Porto.
“Apesar das divergências [que existem sobre estas
questões], o fundamental é que não seja o medo da complexidade que leve
a que não haja uma decisão. O útero ou gestação de substituição é algo
de uma complexidade tremenda, mas mais tremendo é o problema que existe
em determinadas situações”, corroborou um dos precursores das técnicas
de procriação assistida em Portugal, o médico Alberto Barros. Além da
possibilidade da gestação de substituição, é necessário avançar a outros
níveis e alterar a lei 32/2006 (que regula a procriação medicamente
assistida). Alberto Barros lembrou, a propósito, que o Conselho
Nacional da PMA “há já três ou quatro anos propôs um aperfeiçoamento
legislativo para a questão dos embriões congelados, que continua a
pastar na Assembleia da República”. “Vamos desencalhar isto”, pediu aos
deputados presentes.
Em Janeiro de 2012, dois projectos-lei do PSD
e do PS relativos à PMA e à maternidade de substituição desceram à
comissão da especialidade. Outros dois projectos-lei que visavam que as
mulheres solteiras passassem a ter acesso a técnicas de procriação
medicamente assistida - apresentados pelo BE e por um grupo de deputados
da Juventude Socialista - foram chumbados.João Semedo diz agora que o BE não decidiu ainda se vai apresentar uma nova proposta e volta a criticar o que aconteceu em 2012. “O projecto que procurava alargar a todas as mulheres as técnicas de PMA foi chumbado por aqueles que aprovaram a maternidade de substituição, um processo muito mais complexo e controverso”, lamenta.
Mas vários deputados presentes no colóquio ainda acreditam que se vai a tempo de aperfeiçoar estes projectos. “Ainda há margem para evoluir”, defendeu a socialista Elza Pais. "Avançar-se para o recurso à maternidade de substituição sem alterar os beneficiários da PMA leva à exclusão de todas as mulheres não casadas e isso constitui claramente uma violação do princípio da igualdade", considerou. Também a deputada do PSD Ângela Guerra, depois de sublinhar que não se revê no projecto-lei do seu partido, está convencida de que ainda é possível ir mais além. "A igualdade é um princípio absoluto", frisa.
Os projectos-lei que estão na comissão parlamentar de saúde legalizam a possibilidade da maternidade de substituição, mas apenas em determinadas condições, nomeadamente no caso de uma mulher não ter útero. e proíbem a possibilidade de um acordo entre um casal e uma mãe de substituição envolver dinheiro.
O presidente do Conselho Nacional de PMA, Eurico Reis, lamentou igualmente o atraso na discussão parlamentar e chamou a atenção para a importância da maternidade de substituição no caso das mulheres que sobreviveram ao cancro.
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