Sou simpática, misteriosa, só se me descobrires te mostrarei
os meus talentos". Assim se descreve a si própria a mulher que assina com a
alcunha ‘Doce Mel' o seu perfil na versão portuguesa do site Second Love. O
objectivo desta mulher - tal como dos cerca 17 mil utilizadores inscritos no
site - é simples : procurar uma aventura amorosa, um caso sem compromissos
entre pessoas que já estão numa relação.
Os homens podem inscrever--se gratuitamente e publicitar o
seu perfil no Second Love, mas os que queiram responder ao repto de ‘Doce Mel'
terão activar uma conta ‘premium'. Por 29,95 euros mensais podem falar com
todas as mulheres que manifestaram no site a disponibilidade para um affair.
Para as mulheres, o site é mais simpático - podem utilizar todas as funções
gratuitamente.
A razão para esta ‘discriminação' é simples."Oferecemos
estas condições às mulheres para estimular a sua inscrição no site", explica à Domingo
Anabela Santos, porta-voz do Second Love em Portugal. Os números explicam esta
campanha - apenas 25% dos 17 mil utilizadores registados em território nacional
são mulheres, um desequilíbrio comum aos outros países onde o serviço funciona.
Os números do Second Love, que começou em Abril mas só passou a funcionar em
pleno no dia 1 de Junho, mostram que a média de idades dos utilizadores anda
pelo intervalo dos 35 aos 45 anos, e que 70% têm (ou pelo menos dizem ter) um
curso superior.
Traição sem ruptura
Aqui não há espaço para enganos. "O site está vocacionado
para pessoas que estejam numa relação e que querem ter um caso com outra pessoa
sem que isso implique saírem da relação existente", explica a porta-voz. O
Second Love, que começou na Holanda, promove os contactos, mas cabe a cada um
decidir quando e como se vai encontrar com alguém que conheceu através da
plataforma virtual. Os resultados têm sido promissores: "O feedback que nos
chega dos utilizadores é muito positivo. Há encontros a acontecer. A adesão superou
largamente as nossas expectativas", diz Anabela Santos.
Concorrência
Para já, o Second Love está sozinho no mercado português,
mas os rivais preparam-se para entrar em jogo. Em Espanha, o site de origem canadiana
Ashley Madison tem sido um grande sucesso. Sobretudo depois do último
fim-de-semana, em que a empresa conseguiu a proeza de passar um anúncio
televisivo no intervalo de um dos eventos mais vistos no país vizinho: o Grande
Prémio da Europa de Fórmula 1, disputado em Valência. "O anúncio passou no domingo e na segunda-feira seguinte
batemos todos os recordes. Registámos 73 mil novas inscrições em 24 horas",
conta Christoph Kraemer, administrador do site em Espanha. Há anos que o site
luta para passar um anúncio em prime-time na TV americana, mas sem sucesso.
Fundado em 2001 no Canadá, o portal conta já com 10 milhões de
utilizadores em todo o Mundo. O fundador e director do Ashley Madison conta à Domingo
que os portugueses são um dos próximos alvos. "Estamos agora a lançar o serviço
no Brasil e contamos chegar a Portugal no próximo Outono. O sucesso que temos
tido em Espanha, onde temos já 120 mil utilizadores registados, leva-nos a crer
que vamos ter bons resultados", conta Noel Biderman.
O empresário canadiano foi pioneiro na criação de sites de
encontros especialmente vocacionados para gente comprometida. "A ideia surgiu
de uma conversa com uma jornalista. Em 2001 falava-se muito da bolha
especulativa da internet, mas havia a noção de que a net tinha mudado para
sempre pelo menos três coisas: a forma como ouvimos música, a maneira como
vemos filmes e vídeos e os métodos que usamos para conhecermos pessoas". E foi
este último aspecto que interessou Noel:
"Percebi que já havia muitos sites de encontros, muitos deles
frequentados por pessoas comprometidas, mas não existia nenhum que fosse
claramente dirigido a quem só quer ter uma aventura, sem sair da sua relação".
O nome da empresa nasceu da constatação de que Ashley e Madison são os nomes
mais escolhidos para bebés na América. O slogan é curto e incisivo : ‘Life is
short, have an affair' (‘A vida é curta, tenha um caso'). Aos 39 anos, Noel é
hoje um homem rico e com vontade de expandir o negócio. Sem pruridos morais.
"Eu não quero convencer ninguém a ser infiel. Essa é uma ideia que nasce de
cada pessoa. O que eu ofereço é uma plataforma segura e discreta onde as
pessoas se podem encontrar. Nunca ouvi ninguém culpar um hotel ou uma empresa
de telecomunicações por facilitarem o adultério".
Da Escandinávia para sul
Também no próximo Outono chega a Portugal um terceiro site
dedicado a promover encontros "entre adultos que queiram ter uma relação
fugaz". É assim que o norueguês Sigurd Vidal explica a missão do site Victoria
Milan, nome escolhido "porque pode ser pronunciado por pessoas de todas as
línguas".
Criado em Abril de 2008 na Noruega, Suécia e Dinamarca, o
portal tem centenas de milhares de utilizadores em vários países. Em Espanha,
onde o serviço começou em 2008, são mais de 40 mil. Portugal é o próximo
destino: "Estamos a formar a equipa, porque queremos ter alguém do país à
frente das nossas delegações", explica Sigurd, de 39 anos.
Tal como a concorrência, o Victoria Milan aposta na troca de
contactos entre quem tem vontade de arriscar. Mas estar num sítio onde qualquer
pessoa pode pesquisar quem está disposto a trair o parceiro ou parceira (sejam
hetero ou homossexuais) obriga a cuidados redobrados. O mentor do site deixa uma recomendação: "Criem uma conta de
e-mail nova e um nome de utilizador que não seja reconhecido facilmente".
Porque a traição é um dos mais antigos pecados da humanidade, mas a ira também...
Nenhum comentário:
Postar um comentário