As comissões de protecção de crianças e jovens intervêm cada vez mais em
casos de desavenças e incumprimentos dos pais, nomeadamente quando um
dos progenitores tenta afastar o filho do outro pai, um fenómeno mais
conhecido como alienação parental.
À agência Lusa, o presidente da
Comissão Nacional de Protecção das Crianças e Jovens em Risco (CNPCJR)
admitiu que há cada vez mais casos de alienação parental identificados
pelas comissões de protecção de crianças e jovens (CPCJ), apesar de não
haver uma contabilização estatística.
“As comissões referem de
facto casos em que é solicitada a sua intervenção por virtude de
desavenças, incompreensões e incumprimentos por parte dos pais. Existem
várias manifestações e uma delas é essa [alienação parental], em que um
dos pais procura afastar a criança do convívio com o outro”, apontou
Armando Leandro.
De acordo com o responsável, as CPCJ estão
alertadas para que a alienação parental possa ser prevenida, uma vez que
“há frequentes casos em que um dos pais tenta que a relação do filho
com o outro progenitor não decorra de forma normal, perturbando essa
relação”.
“Do ponto de vista da prevenção é preciso cada vez mais
radicar uma cultura da responsabilidade dos pais e do dever que cada um
tem para que a criança tenha uma boa imagem e uma relação com o outro
progenitor, independentemente da relação entre eles”, defendeu Armando
Leandro.
Acrescentou que apesar de ser necessária a intervenção
“reparadora” dos tribunais e das CPCJ, é “indispensável” prevenir este
tipo de comportamentos através de uma “cultura precoce de uma vida a
dois e da importância da parentalidade positiva”.
De acordo com
Armando Leandro, as situações reportadas pelas CPCJ têm muitas vezes a
ver com o incumprimento das decisões dos tribunais, colocando as
crianças em “situações de perigo”.
“Importa incrementar cada vez
mais dispositivos como a mediação familiar, a formação parental, quer de
forma preventiva, quer de forma reparadora para evitar esses fenómenos
que são muito prejudiciais para as crianças”, defendeu.
Já o
procurador da República e membro do Observatório Permanente da Adopção
Rui do Carmo, defende que a solução para este problema pode passar por
mais formação nos tribunais, mas acima de tudo por mais formação dos
pais.
“Acho que é preciso aumentar a formação dos tribunais, mas
também aumentar a formação cívica das pessoas. Se isso dos dois lados
melhorar, chegaremos certamente a bom porto”, defendeu.
Para o
magistrado não faz sentido avançar para a criminalização da alienação
parental, defendendo que a discussão do que é ou não alienação parental
se deve fazer ao nível da psicologia e não dos tribunais.
A
presidente do Instituto de Apoio à Criança (IAC) critica, por seu lado, o
conceito e defende que não faz sentido haver um Dia Internacional para a
Consciencialização da Alienação Parental, que se assinala a 25 de
Abril, porque com isso se está a colocar o enfoque nesta questão quando
há outros problemas mais importantes como a violência doméstica ou o
abuso sexual sobre as crianças.
Dulce Rocha disse inclusivamente
que ao longo de toda a sua carreira como magistrada encontrou
“pouquíssimos” casos de mães que tivessem impedido os pais de estarem
com os filhos sem terem uma razão válida e muito forte, defendo que são
essas razões que têm de ser averiguadas.
Entende que em matéria de
regulação parental, a opinião das crianças não é considerada, que ainda
vinga a ideia de que os menores são influenciados pelas mães e que a
insistência na síndrome de alienação parental pode desviar a atenção dos
problemas principais.
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