O projeto "Gravidez na Adolescência em Portugal: etiologia, decisão reprodutiva e adaptação", que começou em 2008 e deverá estar concluído em 2014, analisou até ao momento dados de 1.675 jovens, entre os 12 e os 19 anos de idade, utentes de 31 hospitais e maternidades, 29 unidades locais de saúde e centros de atendimento a jovens e 23 escolas de todas as regiões de Portugal.
Para já, a amostra é apenas representativa das adolescentes que levam a gravidez até ao fim, mas os autores estimam que a amostra das jovens que interrompem a gravidez será alcançada nos próximos meses.
As primeiras conclusões apontam que 53,9 por cento destas jovens "têm  o seu primeiro contacto com os serviços de saúde após as 10 semanas de gestação",  o que elimina a possibilidade de interrupção voluntária da gravidez, disse  à agência Lusa Raquel Pires, uma das investigadoras do projeto da Universidade  de Coimbra, que conta com o apoio da Associação para o Planeamento da Família  e da Direção-Geral de Saúde.
No entanto, assinala Raquel Pires, daquelas que tiveram essa possibilidade,  apenas 15,1 por cento ponderou interromper a gravidez, tendo posteriormente  mais de metade destas decidido continuar com a gestação.
O estudo conclui ainda que a grande maioria das gravidezes adolescentes  (98 por cento) ocorrem dentro de uma relação de namoro com homens em média  4,5 anos mais velhos, por vezes adultos, e que estão fora do sistema escolar.
Revela ainda que, apesar de a maioria das adolescentes ter engravidado  de forma não planeada, utilizando contraceção e conseguindo identificar  o que falhou no seu uso, há regiões do país com elevadas percentagens de  gravidezes resultantes do não uso de contraceção, nomeadamente as regiões  Centro e da Madeira.
No Alentejo e nos Açores, as gravidezes adolescentes são na sua maioria  planeadas e na Madeira existe também uma elevada percentagem de uso ineficaz  da contraceção sem que as jovens consigam identificar a falha que esteve  na origem da gravidez.
"Independentemente da trajetória que conduz as adolescentes à gravidez,  a baixa escolarização e/ou o abandono escolar estão entre as variáveis que  mais contribuem para a amplificação do risco de gravidez adolescente", sublinha  Raquel Pires.
Nesse sentido, a investigadora defende que é necessário dar prioridade  "à educação das adolescentes e dos seus parceiros sobre possíveis falhas  na utilização de métodos contracetivos, o risco de gravidez a elas inerente  e a ação da contraceção de emergência". 
"Os nossos resultados espelham igualmente a necessidade de não desinvestir  nas políticas de saúde que visam a promoção da utilização de contraceção,  sendo ainda necessário avaliar as razões pelas quais os resultados alcançados  em algumas regiões, como o Centro e a Madeira, não são totalmente satisfatórios",  acrescentou.
Raquel Pires considera que as adolescentes em maior risco se encontram  fora do sistema de ensino, "o que restringe o seu acesso a uma educação  sexual", sublinhando que um dos grandes desafios na prevenção deste fenómeno  passa pela integração nas ações da população masculina. 
"Muitas vezes estes homens estão fora do alcance dos programas de educação  sexual e prevenção da gravidez e outros resultados indesejados por serem  mais velhos ou não frequentarem a escola, sendo importante investir em ações  destinadas à promoção de uma sexualidade segura na comunidade", disse.
A gravidez adolescente em Portugal tem vindo a descer nos últimos anos,  segundo a Direção-Geral de Saúde.
"O número de nascimento em mulheres abaixo dos 19 anos têm diminuído  ao longo dos anos, progressivamente e de forma sustentada, sem que isso  corresponda ao aumento de interrupções da gravidez neste grupo etário",  disse à agência Lusa Lisa Vicente, da DGS. 
Baseando-se em inquéritos a jovens realizados em Portugal e na União  Europeia, a responsável da DGS adiantou ainda existir uma "maior utilização  de contraceção segura entre as mulheres mais jovens".